sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

40 semanas e...

uma cesárea indesejada.
sentimento: frustração. impotência.
não sei se sou, mas me sinto sim vítima desse sistema cesarista que está posto em nossa sociedade.
médicos sentem-se deuses.
mulheres grávidas são doentes que precisam de cirurgia.
alguns vão ver como exagero de mulher recém parida, que os hormônios estão desregulados. mas não, não é. a minha escolha não foi respeitada.

passei a gravidez inteira estudando, lendo, debatendo, participando de grupos sobre o parto natural, minha médica se dizia adepta, mas de que forma? adepta até as 40 semanas? quando sabemos que uma gestação pode ir até 42 semanas? 

fiquei tão descontrolada, quando, sem qualquer motivo, minha médica disse: arruma tuas coisas que vou te internar hoje. como assim? não entrei em trabalho de parto...
o desespero foi tamanho, era impossível eu conter o choro, eu não tinha a menor condição, consegui mais um dia, arranjei, pra ontem, uma médica que fizesse uma ultrassonografia com Doppler que confirmava estar tudo bem com minha filha, não havendo nenhum indicativo de cesárea... e não havia, minha barriga ainda estava alta, eu só tinha 2cm de dilatação, mas não tinha contrações, apenas leves cólicas.

do dia 10 não passou. questionei, chorei, quase implorei... fui colocada à disposição para procurar outro profissional, mas como? com 40 semanas, quem iria me atender...? 
tenho certeza que ouvi coisas desnecessárias... do tipo: ela já tem 3,400kg, vai normal?
meu coração dizia que não era hora mas... eu cedi, com medo, de tanto ouvir: pra que esperar mais se ela já está formada? tudo pode mudar, ela foi tão esperada, é tão amada, hoje está bem, mas num piscar de olhos pode não estar mais... e aí? 

até outra médica conhecida se achou no direito de vir, sutilmente, deixar sua opinião a respeito da indução do parto, das 40 semanas... desnecessária a vinda desta pessoa.

me internei, sem forças para ser contra, apenas pedindo a Deus para entrar em trabalho de parto... o que não aconteceu... já com 5cm de dilatação começou a ocitocina... que não fazia efeito nenhum... trocou-se por outra dose e nada, e mais uma dose e nem sinal de baixar a barriga ou contrações... até que eu tive reação, comecei a me tremer incontrolavelmente...

e foi então que, já de madrugada, veio o discurso: fiz o que pude, do jeito que você quis, mas não era pra ser, agora você precisa decidir.

decidir o que? eu não poderia mais voltar pra casa... minha única saída era render-me a cesárea...
é assim foi feito... minha sensação? tristeza profunda. parecia que eu me preparava para um funeral, sim, essa foi a minha sensação...

e seguiu-se a violência, meu marido foi chamado a atenção sobre a proibição de filmar o parto, minha doula foi deixada de lado, tive apertos fortes para me segurar na hora da anestesia, o anestesista puxava com toda a força o acesso do soro que já vinha incomodando desde o quarto e o puxão dado por ele só fez doer mais, mas a essa altura do campeonato nada mais doía tanto quanto o fato de ter que me submeter a uma cesárea... não bastando tudo isso, minha filha nasceu e foi levada para longe, ninguém respeitou a nossa hora de ouro, não me dera ela para que pudéssemos ter o primeiro contato, pelo contrário, mesmo com o teste de apgar dando 9, ela foi levada para os procedimentos de "rotina"... e eu fiquei ali, sozinha, deitada... chorando.

não sei se me recupero. dói, muito. me senti de mãos atadas. me senti impotente. 

nem aquela história de que "você não é menos mãe porque fez uma cesárea", ou "foi a vontade de Deus, tudo o que Ele faz é bem feito, o que importa é que ela nasceu saudável"..., não é suficiente para acalmar meu coração...



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